PAISANOS EM PROSA VIII - CLAUDIA KUNST

Não tem nada a ver com o mês da mulher. O motivo pra eu ter convidado a CLÁUDIA pra o oitavo paisanos está muito além dos gêneros. Apesar de eu conhecê-la recentemente, os ecos vindos de Ivoti não deixaram dúvidas: há alma.

E tá aí...

CLAUDIA KUNST
29 anos
Jornalista




SOLO - O que, a cada dia, te faz levantar da cama? Quais tuas motivações atuais?

CLÁUDIA - Sou uma pessoa que sonha muito. Pra mim, tudo é possível. Todos os dias quando acordo, me deparo com mais um dia em que eu preciso batalhar pra cuidar de minha vida pessoal e profissional. Isso engloba todos que estão ao meu redor. E o que me deixa cada dia mais feliz é que, todos os dias, mesmo não fazendo nada tão mirabolante eu aprendo: com as pessoas, com as coisas, com a natureza, com o tempo. Esse é o mistério maior e mais intrigante: o tempo. E adoro levantar, sabendo que vou sempre aprender algo novo. Minha maior motivação, que eu acredito que seja permanente, é o entusiasmo que tenho pela vida e pelos meus objetivos, que são muitos.


SOLO - O tempo pode ser nosso maior aliado ou maior inimigo, né? Numa época onde a vida nos chama cada vez mais para o entretenimento mas ao mesmo tempo nos exige cada vez mais produção, como tu fazes para conciliar o tempo do sonho e do real, para que o tempo esteja ao teu lado?

CLÁUDIA - Sim, o tempo pode ser ambos, aliado ou inimigo. Aliado porque ele ensina, dá as respostas na hora certa. Mas também é inimigo porque ele não perdoa. Se tu não és suficientemente perspicaz para utilizá-lo na hora certa, de nada adianta entendê-lo. E acho que a palavra para a tua pergunta é organização. O tempo real é o inimigo, ele não dá trégua. Por exemplo, o alcance dos meus objetivos já está em atraso. No final de 2007, listei tanta coisa que quero fazer e estou correndo atrás de tudo agora, afinal, já estamos na metade de março de 2008. Os mecanismos de que dispomos hoje (vide tecnologia) ajuda muito nisso tudo. Mas é na hora do emocional, do tempo do sonho, que precisamos estar cientes do que fazemos de verdade. A organização é fundamental. Em tempos de internet, msn, downloads e tudo mais, precisamos ter um tempo para as amizades reais, as conversas nos botecos da vida, nas rodas de chimarrão, nos eventos artísticos e tudo o que a vida pode proporcionar em tempo real.


SOLO - "A vida não tem bola extra", afinal de contas... Mas pra continuar na história: tu moras numa cidade onde o tempo deve ser diferente do tempo que embala o centrão urbano. Como tu vês isso?

CLÁUDIA - “Tempo Tempo Tempo Tempo entro num acordo contigo”, como diria Caetano. Sim, o nosso tempo é totalmente diferente. Vamos dormir com as galinhas como se diz por aí. Mas não é esse o problema. Adoro dormir cedo e acordar cedo. Mas confesso que sinto falta de atividades culturais como teatro, cinema, boa música ao vivo, etc. Se bem que ainda não defini se, um monte de gente, sentada nos bancos da praça, bebendo muita cerveja e ouvindo Bruno e Marrone é cultural. Acho que é, mas eu não gosto. Então, digamos que eu sinta falta de atividades culturais que eu goste. Mas talvez eu não conte como habitante de Ivoti, sei lá. Por isso, preciso me deslocar aos centros urbanos para ver o que fazer numa sexta ou num sábado à noite, por exemplo.


SOLO - E que tipo de atividades tu gostas?

CLÁUDIA - Bem, todos sabem que sou muito musical. Gosto de ir a lugares onde eu possa ouvir música. Meu gosto musical é variado, gosto de Devendra Banhart, passando por Neil Young e Orquestra Imperial até Black Label Society. Mas adoro teatro, bibliotecas – lamento pela falta de tempo (olha ele aí...) porque não coincide com os horários que tenho disponível e o período de atendimento ao público da maioria delas. Algo que considero altamente cultural, não é preciso gastar e é imensamente satisfatório são as discussões com amigos e parceiros do meio cultural. Dali saem dicas de livros, filmes, músicas e mais um monte de coisas bacanas. Sem falar nas risadas que são super saudáveis pra pele.


SOLO - O problema destes encontros é que sempre se esquece tudo no outro dia. Hehehe... Tu trabalhas com jornalismo há mais de 10 anos. O que podes contar desta experiência? O que tu achas da profissão, hoje? É preciso tanta informação?

CLÁUDIA - Bem, Éver, eu garanto que não esqueço de nada. Hehee. Vou de água sem gás mesmo. Bom, jornalismo é fascinante, é de alma, está no meu sangue. Gosto dele como um todo, principalmente do jornalismo Gonzo. Apesar de ter praticado pouco, mas é o que mais me atrai – participar da reportagem, vivê-la para poder escrever. Bem, o jornalismo me pegou de jeito quando eu nem tinha concluído o Ensino Médio. Comecei trabalhando no maior jornal diário da menor cidade da América Latina. Quer dizer, Dois Irmãos, em 1995/96, tinha 16 mil habitantes e tínhamos que fazer um jornal diário, de quatro páginas, vespertino. Eu brincava que, qualquer dia, levaria uma enxada para a redação para cavocar as reportagens. Imagina? Que manchete a cidade teria? Se ninguém fosse morto até as 15h, não tinha manchete... aí, era um Deus nos acuda (e lá vem o tempo de novo). Tinha que ter uma boa manchete em pouquíssimo tempo. Bem, isso tudo me proporcionou ter agilidade na minha redação, aumentou meu gosto pela leitura e pelo interesse de saber de tudo de forma completa. Odeio informação pela metade. E o mais importante: aprendi a questionar. Se é preciso ter tanta informação? Bem, o que acho é que a tendência do Jornalismo é como na Medicina. Digo tendência pelo aprimoramento constante, mas já se vem fazendo isso há alguns anos. É preciso se especializar em algum editorial. Jornais sim, devem ser amplos e completos. Mas revistas, blogues, sites, rádios, etc, devem ter um foco e um público para ser atingido. Assim, o consumidor dessa comunicação pode se identificar e reciclar a informação.


SOLO - GONZO com água sem gás? Tás louca, guria? o Hunter Thompson se revirou no túmulo agora!

CLÁUDIA - Deve mesmo ter se revirado! Hehehe. Digamos que eu seja uma repórter gonzo que cuida da saúde física e mental. Se ainda não sabes, sou uma “louca” d´cara.


SOLO - Confesso que me passaram várias piadas idiotas pela cabeça a respeito de fazer um jornal diário em Dois Irmãos mas vou te poupar. Até mesmo porque imagino que deva ter sido uma experiência riquíssima. O mundão é algo tão abstrato pra mim pra me parecer interessante. Me encantam estas coisas ligadas à "aldeia", o dado local. A vida só germina à partir do casulo, né?

CLÁUDIA - Dizia Tolstoi: “Se queres ser universal, fala de tua aldeia”. A partir de minha experiência profissional, mesmo numa cidade como Dois Irmãos (para fins de esclarecimento: trabalhei em outros veículos também) pude expandir meus conhecimentos e experiências. Só pude me abrir para o mundo aqui fora a partir daí. Antes disso, eu era uma jovem introspectiva, sem nenhum senso de iniciativa. É mesmo, Éver, Dois Irmãos é um casulo, mas espero já ter superado essa fase. hehe...


SOLO - Tu viste o show dos Rolling Stones no Rio... Eu dei uma olhada rápida pela TV. Me pareceu um pastiche. Um bando de velho desrespeitando o tempo ( olha o tempo de novo ). Mas eu sou um chato que não gosta muito de Rock ( e nem vê mais sentido nele ) que estava em casa, vendo a vida pela TV. Como foi estar lá? Não te deu a sensação de ser algo anacrônico?

CLÁUDIA - Olha. Eu vejo isso de uma forma mais romântica e não didática. Anacrônico seria algo forte demais para se dizer e não iria ao encontro do dito roqueiro: “o rock não morreu”. Bem, Mick Jagger e companhia limitada têm uma energia absurda no palco. Eu não sei o que se passa pela cabeça dos coroas, mas acho que eles curtem o que estão fazendo lá. Até porque, os discos dos Stones têm toda uma trajetória e junto, o enriquecimento dos shows, do palco, da estrutura. Acredito que seria anacrônico se eles tivessem deixado de gravar e continuassem com os shows. Mas eles não deixaram de entrar em estúdio, foi uma evolução. Acho que Os Replicantes se enquadram nessa definição que citaste, Éver, pois não tem mais Gerbase, nem Wander Wildner e continuam insistindo com a tal Julia. Outra banda que se enquadra nisso é The Doors, que se apresentará em Porto Alegre em abril. Apesar de eu querer ir vê-los, especialmente o Manzareck, acho que a banda ficaria melhor lá, junto do túmulo de Jim Morrison. Se fosse uma chamada para ambos os remanescentes da banda, citando-os pelos nomes ou qualquer outra citação, menos The Doors, seria mais coerente. Mesmo assim, o show dos Stones foi do caralho. Pude ver e ouvir, ao vivo o que eu ouvia em casa, desde criança através de um aparelho de vinil. Pra mim, foi importante.


SOLO - Dizem que o Elvis também não morreu. Nem o Punk. Estão todos na ilha de Lost. Hehehe... Enfim... melhor não contrariar! Voltando ao teu lado jornalístico, fala sobre a + MOVIMENTO.

CLÁUDIA - Bem que disseste que és chato! Hehe. Brincadeirinha, Éver.
Bem, a + movimento é outra experiência muito interessante que tive. Editorialmente falando e como empreendedora. Este segundo, nem curto citar muito, pois foi a parte menos bem sucedida. Uma experiência incrível, aprendi muito. Tanto que um de meus objetivos é voltar com a revista impressa, mas em outro formato e com outras formas de captação de recursos. Mas isso é assunto pra mais tarde. Agora, editorialmente falando, nosso maior objetivo era ressaltar a nossa cultura. Lá, tinha dança, música, artes plásticas, história, através do patrimônio cultural e outros temas. A + movimento vinha sofrendo uma evolução bacana, estava sendo conhecida em todo estado e até mesmo fora dele. Um veículo que estava adquirindo respeito e confiança. Por “n” motivos tivemos que encerrar as impressões dela. E este ano, lançamos o blog + movimento, onde voltamos a falar de cultura contemporânea. Montamos uma minúscula equipe, já da “antiga formação”: Marcelo Pitel – designer, ilustrador, animador; Bela Expedito, estudante de Publicidade e Propaganda que coloca lá suas idéias e opiniões; Gabriel Leonardelli, publicitário e que também faz comentários bacanas sobre sua visão em torno da cultura, além de mim, que edito e também escrevo. Eu confesso que entrei pra esse mundo dos blogs recentemente e não entendo muito de números. Mas desde o seu lançamento, no dia 5 de janeiro, já tivemos 2292 acessos. Disseram-me que é um bom número. Hehee. O bom mesmo, é fazer uma visita lá e tirar suas próprias conclusões: www.maismovimento.wordpress.com. Aos poucos, ela está tomando uma forma mais arredondada, do jeitinho que queremos, pois pasmem, todo o blog é feito via msn. Marcelo mora em São Paulo, Bela, em Porto Alegre, Gabriel em Caxias do Sul e eu, em Ivoti. Mesmo assim, estamos tentando fazer nosso melhor. Essa é a + movimento, um agito cultural, de entretenimento que expõe idéias e dá notícias desse meio tão vasto que é a cultura.


SOLO - Esta entrevista e todas as outras do Paisanos também foram via MSN. Ok, Cláudia! Agora o espaço é teu pra dizer o que quiseres. Muito obrigado pela entrevista e vai daí...

CLÁUDIA - Essa é a forma de comunicação do tempo real, não é, Éver?
Está sendo agradável fazer o blog por haver uma troca interessante entre os blogueiros (é este o termo certo?). Ao contrário dos veículos de comunicação tradicionais, a troca de links proporciona um ambiente cordial na net. Isso virou regra, a troca de links é fundamental para uma boa propaganda. E fico satisfeita pela + movimento estar linkada com o Solo Urbano. Por isso, Éver, eu quero te parabenizar pelo blog e agradecer o convite que fizeste. Forte abraço pra ti e sucesso!

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