PAISANOS EM PROSA III - JUÇARA GASPAR

O post anterior foi apenas uma introdução para a entrevistada desta vez. Não vou falar nada, o rótulo MISS TEMPESTADE traduz tudo. Conselho: lê rápido antes que as palavras da moça desapareçam no mesmo tufão com que a dona as espalhou. Na plataforma, mostrando toda a graça, a sensualidade e inteligência da mulher leopoldense ( sim, ela também sonha com a paz mundial), JUZA POE, a mulher que gosta de gente e tem medo de clichês.



SOLO - O que , a cada dia , te faz levantar da cama? Quais tuas motivações atuais?

JUZA - Ahh! tanta coisa. Sei lá... Começo pela carne e termino com o espírito: a bunda do M., os olhos do E. (rsrsrsrs). Agora sério: a coisa visceral do teatro, a dinâmica da pesquisa, estar sempre aberto - sempre com noção crítica - nada está montado, tudo pode ser quebrado... O fogo e claro, a água em forma de tempestade! Meu filho. Ariel iluminado. Todas as literaturas. Umas no momento solo-fisiológico (aqueles escritos que combinam com cocô). E aquelas leituras de fim de dia. No ouvido de alguém. Meio. Início. Etc. Por tudo isso: durmo pouquíssimo!

SOLO - Pouquíssimo? Quantas horas diárias, em média?

JUZA - Só sei ser breve, concisa, com meu sono: 4,5hs nos finais de semana e seis durante a semana.

SOLO - E como trabalhas o desejo de demorar-se nas coisas e querer absorvê-las todas?

JUZA - Aprofundo-me mesmo, no que me apaixona. Talvez seja um grave defeito. As coisas lineares demais me cansam. Gosto de Literatura e Teatro. Devoro tudo. Regurgito as sobras depois. As outras coisas passam por mim ou eu mesma passo por elas. Algumas me incomodam, outras fazem meu dia ser lacônico, etc. Não gosto do morno, insosso, desbotado... Gosto de profundidade com movimento, de ver gente produzindo arte-sensível, de discutir, de rever conceitos. Um exemplo (adoro exemplificar). Estou profundamente no ARDEARTE: desde a nascença da coisa em si..

SOLO - Retomo a pergunta: como conciliar a sensibilidade e a urgência. A força e a delicadeza do sentir. A profundidade e o movimento ?

JUZA - Temo que a urgência reduza o sensível. Mas esta inquietude é parte de mim. É assim que busco uma concisão. Outras pessoas buscam na passividade e não acho que paz seja sinônimo de sensibilidade. Por isso que faço teatro. Estudo o distanciamento, a crueldade, a peste, o teatro, o vivo, o morto, a continuidade de ação... e em seguida estou trabalhando, tentando pôr em prática, agindo, debatendo com colegas, participando do conhecimento do Bira (diretor). Isso é arrebatador e extremamente profundo...

SOLO - Tá! Estás falando tanto em teatro. Agora tocaste no nome do Bira. Fala então sobre o Grupo ARDEARTE...

JUZA - Nos reunimos em março do ano passado pro espetáculo "Os Continentinos", em agosto, 10 pessoas das 19 do elenco, decidiram levar a coisa adiante. Saímos da Antiga Sede, alugamos uma casa na Bento Gonçalves com nosso dinheiro e além de ensaiar, criar figurinos, experimentar maquiagens, linguagens cênicas, etc... Também pintamos, quebramos parede, lavamos, etc. Há no grupo tb uma preocupação com a essência do teatro. Nossa paixão é a verdade cênica. A coisa de despertar os sintomas do social. E somos muito cientes da situação. Há uma nova história sendo gerada em São Léo. Nosso planos são audaciosos.

SOLO - Eu já vi esta empolgação nascer em morrer, nas pessoas de cultura em São Leopoldo, umas 37 vezes. Achas mesmo que existe algo mais concreto? O que te faz pensar assim?

JUZA - Bira. Este é o ponto. Te confesso que há muita porra-louquice neste meio, mas ele é o maestro, o "motorista da nave", o "guia do tapete mágico", compreende? Nós desaguamos no Espaço d`ARTE, as novidades, nossas descobertas, ele nos orienta, canaliza, acalma antes de tecer. Há a parte burocrática também, que levamos muitíssimo à sério. Cumprimos as formalidades todas. Nos esforçamos na coisa profissional. Até ao ponto de ser tomados vez ou outra por "caretas"... Buscamos uma religiosidade também. A coisa do teatro ritual. Temos nossos momentos de energização... Vivo São Léo desde os 14 anos... são exatos 13 anos e 10 meses, sempre na "cena under" e te confesso que não vi nenhum rumor parecido ao que ocorre hoje... Como citastes: muita empolgação... porém: pouco trabalho... Hoje, a coisa fervilha e acontece. Vamos exemplificar mais uma vez: O Espaço d`Arte inaugura dia 02 de setembro, com oficinas adultas, infantis e uma "terceiro ato" para o público maduro. Tem a tua história, o texto do solo sendo incorporado em cena (texto teu, texto teu). Tem a Carina, que trabalha pra caramba, produz, atua, o escambau... O Tchaka, o Velho do Saco, meu mais novo amigo: Coimbra... O Totonho, a Elis, etc..
É muita gente Éver, alguma coisa tem que vingar! Eu torço pra que tudo vingue, cresça e apareça como a luz do sol!


SOLO - Já vi três trabalhos do ARDEARTE e realmente não vi muito disso que falas. No entanto vejo uma evolução grande de trabalho para trabalho. E acho que a iniciativa , por si só, já é louvável. Pela seriedade que é intencionada. Pra acabar com o papo ARDEARTE, faz o teu JABÁ sobre a abertura do espaço, por favor.

JUZA - É isso, vamos inaugurar o Espaço d´Arte João Ubiratan Vieira,
no dia 02 de setembro: cerimonial (manifesto/lacto.oficinas), performances, coquetel e um grande encerramento, com as canções do Éver ( Nota do solista: entenderam a pergunta? Hein? Hein? hehehe...).


SOLO - Depois deste pseudo-porre artístico, estético, ardeártico... Onde fica a mulher-filha-mãe (perguntinha Hebe "que gracinha" Style) ?

JUZA - Então... sou a oitava filha da união de uma bugra/italiana, com um afro/italiano. Minha família é enorme e barulhenta, come muito, dança, bebe, etc. As mulheres da família são todas muito "yangs"... um foguete no coração. Intempestuosas. Os homens são mais diplomáticos, mais água. Família socialista. Sempre na luta, no que resta do movimento de esquerda, etc. Aos 19 anos tive meu filho. Casei. Fora. Me divirto com meus sobrinhos, fazemos enormes camas coletivas, mergulhamos em competições com jogos de tabuleiro, e nos deleitamos com negrinho-de-comer-de-colher...Sou bem tia, bem filha, bem irmã, bem mãe...Gosto de família. Na verdade, gosto é de gente mesmo!

SOLO - Então tá! Então deixa teu recado pra esta GENTE que lê o SOLO. O espaço é teu pra o que quiseres...

JUZA - Pra não soar clichê. Faço o intróito, seguinte: o vil é conforme com a atualidade do mundo. Por conta disso, que creio no desencadear de ações através da arte... pode ser ufanismo, utopismo, fanatismo, etc... É assim que é. Que venha o mundo, porque eu tenho avidez suficiente e um implacável apetite de vida... E tem muito lugar ao meu lado, ombro no ombro, não precisam acotovelar-se...(rsrsrs)

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